Arquétipo

Papo de 'passarin'
Apagariam? & se Apagasse?
Não Apagues! Pague!
Apegue-se!
Passará.

M. Giunta

Desde 1943 na esquina de duas vias importantes da cidade: a Avenida Paulista e a Rua Consolação, nº2423, o CINE BELAS ARTES cumpre a sua função social ao permitir a refexão e o debate de rua sobre a condição humana em suas telas, que radicam o cerne da estética. Mas nesta data, o cinema realiza sua última transmissão de películas na madrugada e anuncia que encerrará as atividades neste ano - queimou-se o filme da urbe. É com pesar que conversamos sobre o imensurável prejuízo ao fomento da cultura, da diversidade, do intelecto e do respeito à cidade, quiçá nacional - ouso escrever-te.

Inaugurado como 'Cine Ritz', anos mais tarde, chamou-se 'Cinema Trianon'. Em 1967, reinventa-se e adquire o tradicional nome 'Cine Belas Artes' e o prestígio da 'paulicéia', em razão da excelente programação a cargo de Dante Ancona Lopez. Até que em 1983, por meio de nova reforma, ganha seis salas e torna-se o primeiro multiplex da cidade, como Gaumont Belas Artes. Cada sala recebe o nome de um grande artista brasileiro, a saber: Carmen Miranda, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Aleijadinho, Villa-Lobos e Mario de Andrade, respectivamente, em sua especialidade: música e atuação, pintura, arquitetura, escultura, composição e literatura.

O cinema se manteve até 2002, quando entrou em crise e, então, anunciou-se o encerramento das atividades culturais. A possibilidade resulta em protestos. Para manter-se como o tradicional cinema nacional, no ano seguinte o Belas Artes ganha um novo proprietário, André Sturm,bem como a produtora O2 - de Fernando Meirelles. No fim de 2003, o banco HSBC passa a patrocinar o espaço, financiando uma grande reforma. O nome mais uma vez muda, passando a se chamar HSBC Belas Artes. Desde então, o local oferece lançamentos clássicos do cinema >> além do Noitão - evento mensal, em que ocorre a exibição três filmes a partir da meia noite ( com direito à sessão surpresa!)

Como uma película de sucesso, a história do espaço não podia ser diferente. A saga recheada de suspense/drama continua. Novamente, em 2010 o cinema anunciou a possibilidade de baixar as cortinas, logo após o banco HSBC divulgar o encerramento do patrocínio. O cinema mudou, novamente, o nome para Belas Artes. O proprietário atual, o André Sturm, procura por empresas para um novo patrocínio. O fato é que ao fim de janeiro de 2011, o Belas Artes fechará as suas portas e será demolido para a construção de um prosaico estabelecimento comercial; leia-se: loja! "É disso que eu preciso ou não é nada disso?" evoco o Sérgio Sampaio, pois há quem diga que dormimos de touca diante do exposto.

Dica aos investidores ( será o SANTANDER ? ), a REAL oportunidade está lançada! Vamos investir! Afinal, não é segredo que o maior faturamento do Banco espanhol é no Brasil y 'Todas las cosas que quedaron por decir se dormirán' - lembrando a original trilha de Cría Cuervos de C.Saura. Em vista da veracidade do anúncio, todavia, Sturm e Léo Mendes afirmam ter planos para reabrir as salas em outro canto da cidade e promover a programação original >> inclusive com os Noitões que reúnem, nas madrugadas, aproximadamente mil pessoas. Olé!

A boa notícia é que o governo municipal também irá se manifestar sobre a situação do cinema. Na terça-feira (18/1) será votado na Prefeitura um pedido de tombamento do edifício que abriga o Belas Artes, numa tentativa de mantê-lo no local. 'O pedido foi aceito pelo Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, que considerou o assunto “urgente”'. Caso seja tombado, o prédio não poderá mais ser modificado, mantendo, assim, as salas de cinema intactas - via Pipoca Moderna.

Um pouco de Balbúrdia para nos protejer da Ordem!

Diante deste cenário, desprovido de caráter, não chamaremos o Batman (perdão, caro Heródoto Barbeiro - CBN). Renunciaremos ao herói mascarado para despertarmos o anti-herói de Mário de Andrade. O cidadão do Mundo compreende que o nó aperta quando não há investimento no setor cultural - e ocorre a amputação das partes sadias.

Em tempo de anúncios, denuncio que o problema é anterior à falta de patrocínio ou dinheiro. Mas se insistem em dizer, recordo-me da 1ª filmagem de Quentin Tarantino "Reservoir Dogs" - a solução é recorrer aos vilões do cinema e pagar a conta - bring that 'little green bag'! Afinal, 'lookin' back on the track gonna do it my way'.

Que a luz desse Arquétipo urbano - cenário de espetáculos - não cesse,jamais. Nada de adeus. Recuso-me e não me despeço.
Até breve!

As luzes do cinema se apagarão...é verdade.

'Mas' Será que o filme iniciará?
[silêncio]

Confiram!